Aborto de repetição
Definido com duas ou mais perdas consecutivas antes das 20 semanas de gestação, o aborto de repeticao é uma experiencia traumatica para um casal que esta tentando engravidar. Aproximadamente 15% das mulheres grávidas experimentam perdas esporádicas. Apenas 2% das mulheres grávidas apresentam duas perdas e apenas 0,4 a 1% têm três perdas de gravidez consecutivas.
O aborto recorrente é uma das áreas mais frustrantes e difíceis em medicina reprodutiva porque a etiologia é muitas vezes desconhecida e ainda há poucas estratégias de diagnóstico e tratamento. Antes de tentar uma nova gravidez, os casais buscam uma explicação e um tratamento eficaz para evitar novas perdas. Sem um ou ambos, muitos casais ficam vulneráveis a ofertas de testes e tratamentos que não são baseados em evidências e muitas vezes não trarão benefícios. Mais valioso do que novas estratégias de tratamento sem comprovação é estabelecer um plano de acompanhamento e o suporte ao casal.

Acompanhamento do casal com aborto de repetição
Casais que se encontram nesta situação devem ser avaliados antes de tentar uma nova gravidez. Isso significa realizar uma avaliação clínica completa do casal, assim como exames complementares antes de engravidar novamente.
Um plano para a gravidez subsequente envolve tratamentos potenciais, conselhos sobre estilo de vida, exames de ultrassom e visitas frequentes ao consultório médico, além das escolhas individuais do casal. Muitas vezes, não são encontradas causas para o ocorrido e isso pode gerar grande frustração ao casal.
Fatores de risco
1. IDADE MATERNA AVANÇADA:
Sem dúvidas, a idade da mulher é o fator que possui maior impacto nas taxas de abortamento, complicações obstétricas e malformações fetais. Mulheres com mais de 35 anos podem ter o dobro do risco de apresentar abortos do que mulheres com menos de 35 anos. Esse risco está associado ao aumento de alterações no DNA durante a divisão do óvulo, que leva a alterações no DNA fetal (aneuploidias). Infelizmente, não existem estratégias médicas para diminuir o risco associado à idade materna, já que este é um fenômeno biológico esperado com o avançar da idade. Mulheres devem ser aconselhadas sobre o menor risco entre 20 e 35 anos e com aumento elevado após os 40 anos.
2. IDADE PATERNA AVANÇADA:
Apesar de existirem poucos estudos sobre a influencia da idade do homem no risco de abortamento, acredita-se que a idade acima de 45 anos tambem esta associada ao aumento do numero de abortos.
3. TABAGISMO E USO EXCESSIVO DE ÁLCOOL:
O tabagismo está fortemente associado a resultados obstétricos e neonatais adversos, incluindo gravidez ectópica, placenta prévia, parto prematuro, baixo peso ao nascer e anomalias congénitas. Estudos também mostram a associação entre tabagismo materno durante a gravidez e problemas durante a infância, incluindo síndrome de morte súbita infantil, obesidade, problemas psicossociais e doenças malignas.
O uso de tabaco, assim como a exposição dentro de casa (tabagismo passivo) pode ter associação com aborto recorrente e, quanto maior o tempo de uso e maior a quantidade, maior o risco. Todas as mulheres grávidas ou tentando engravidar devem ser aconselhadas a parar de fumar, assim como seus parceiros.
Da mesma forma que o tabaco, o uso excessivo de álcool possui impacto negativo na gravidez. Não existe dose segura de álcool durante a gestação e os casais devem consumir de forma moderada durante o período pré-concepcional.
4. OBESIDADE E MAGREZA EXCESSIVA:
A obesidade tem um impacto significativo na saúde reprodutiva feminina. O aumento do índice de massa corporal (IMC) está associado à infertilidade, piores resultados após tratamento de fertilidade e perdas gestacionais. Pacientes com IMC >30 (obesidade) ou <18,5 (magreza) possuem maior risco de abortamentos e desfechos obstétricos adversos. A perda de peso gradual deve ser estimulada, sempre associada a alimentação saudável e prática de atividades físicas regulares.
5. OUTROS FATORES
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O abortamento de repetição é associado ao aumento do estresse em casais, porem não existe evidência que o estresse seja uma causa direta de aborto.
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Exposição ambiental a metais pesados e pesticidas está associada ao risco de abortamento de repetição.
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Desbalanços na microbiota vaginal ainda estão em investigação se atuam como fator de risco para abortamento de repetição. Assim, não devemos investigar ou tratar mulheres sem sintomas. Apesar disso, pacientes com sintomas de corrimento ou outras alterações sugestivas de infecção vaginal devem receber tratamento.
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Não existem evidências claras para afirmar que o consumo excessivo de cafeína implica no aumento de abortos, porem durante a gestação é recomendado limitar o uso de café a duas xicaras por dia.
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A atividade física é extremamente benéfica para manter o peso adequado, para a saúde mental e para o bem-estar a longo prazo. Todos os casais devem ser estimulados a praticar atividade física de forma regular pensando em todos os benefícios que ela traz. Além disso, não existe associação entre atividade física e abortamento.